Empoderamento e Sujeito Absoluto nas Plataformas Digitais
Fonte: Linkedin
Não podemos
negar os benefícios e oportunidades das tecnologias, mas seu potencial de
ameaças é amplamente percebido no debate sobre o empoderamento do indivíduo
através das plataformas digitais. Já foi dito que o Sujeito Absoluto em pleno
empoderamento deve ser combinado com a plena sujeição ao regime tecnológico das
plataformas.
Vale a pena
mencionar que já estamos no domínio da tecnologia, de forma negativa, sendo o
significado do Sujeito Absoluto, acima citado, tratado na literatura de duas
formas ou dualidade. “O primeiro significado se refere diretamente ao Eu e o
outro à noção de sujeição.” Em outras palavras, “ser absolutamente empoderado,
na prática, significa ser absolutamente sujeito.”
Em meados
do século passado o filósofo Marcuse afirmou que “o véu tecnológico encobre a
reprodução da desigualdade e da escravidão”. Por sua vez, mais recentemente, o
pesquisador David Grant apontou que este véu está cada vez mais espesso e
“totalizante”, encobrindo a sujeição humana.
Vê-se,
pois, que o Sujeito Absoluto, na forma
dual, é uma sujeição a duas formas relacionadas do ecossistema algoritmo, que é
virtual e não virtual, mas como dito, a inescrutabilidade desse sistema nos
levaria a um estado em que o deixaríamos cada vez mais inquestionável em suas
formas. Inseridos nisto e atendendo aos interesses dominantes das plataformas
digitais, estaríamos absolutamente sujeitos a esse arranjo.
A nossa
herança de um passado conturbado e perverso nos leva a ter um presente similar
e é necessário saber disto para compreender o presente. O complexo de mudanças
ocorridos durante as rupturas surgidas durante os períodos de interesses
dominantes da Divindade Cristã de
Constantino, do Estado e do Mercado, criaram uma série de grandezas ou
magnitudes, que resultaram em falhas turbulentas e vieram recair na Tecnologia.
O presente
e o futuro são irresistivelmente sobrecarregados pelas falhas herdadas das
fontes originais acima citadas. São essas fontes que precisamos buscar para
compreender o presente conturbado e seu futuro aparente.
Estas
magnitudes absolutistas que ocuparam o lugar central na história do Ocidente
foram tentativas em série e fracassadas de criar condições satisfatoriamente
simpáticas ou favoráveis, que ocultassem a angústia existencial. Essas
magnitudes foram potencializadas pela sujeição, em última análise, voluntária,
dos indivíduos às reivindicações não atendidas dos interesses dominantes destas
magnitudes, que construíram medos e desejos que seriam substancialmente
tratados e que as condições de existência seriam favoráveis.
Assim
sendo, o cenário atual de ruptura é a
razão pela qual a Tecnologia falha também em responder adequadamente aos riscos
existenciais principais enfrentados pelas comunidades no mundo Ocidental. A
sujeição humana do passado é a razão da sujeição às plataformas digitais ou
mídias sociais do presente. De fato, não podemos entender de forma
apropriada esta falha, se não for no
contexto da sujeição.
Por fim, as
falhas do absolutismo da Divindade Cristã, do Mercado e do Estado recaíram
sobre a criação do absolutismo da Tecnologia, que já demonstra falhas em não
responder aos riscos existenciais, levando o ser humano a uma sujeição nunca
vista, sobretudo com o advento da Inteligência Artificial.
Para David
Grant, as estratégias dos antecessores da Tecnologia (Divindade Cristã, Estado
e Mercado) e da própria Tecnologia estabeleceram um véu sobre a realidade
existencial, com uma diferença transformacional entre eles. “A diferença é que
as estratégias anteriores afirmavam que lidar com medos e desejos construídos
seria alcançado pela sujeição.”
Enquanto
isto, nas plataformas digitais, que buscam estabelecer uma magnitude
tecnológica, o poder de lidar com medos e desejos será entregue nas mãos do
próprio sujeito individual, “mas sob a condição de conformidade com o regime
algorítmico das plataformas.”.
Neste caso,
cada um teria a tecnologia para lidar com seus próprios medos e desejos, como
indivíduos, mas dentro de uma tremenda sujeição. Mostramos anteriormente como
esta sujeição se dá nas mídias sociais, que produzem idiotas vivenciando ilusões e violências.
Nas
palavras de David Grant “esse é o duplo significado do Sujeito Absoluto”, ou
seja, o Eu na sujeição, um Sujeito Absoluto, otimizado tecnologicamente se
achando que pode lidar com seus medos e desejos, diferentemente do que
acontecia anteriormente. É o Eu totalmente sujeito ao Eu tecnológico
aprimorado. Assim sendo, ser absolutamente empoderado, na prática, significa
ser absolutamente sujeito.
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